A produção de alimentos irrigados tem, em geral, sido vista com grande preconceito pelo cidadão urbano. Em um pensamento basicamente semelhante à visão de Monteiro Lobato, ele imagina o rural como atrasado, o que não deu certo, e o urbano como o avançado, o bem-sucedido.
Só quem quer ouvir pode largar este preconceito, por isso peço: ouçam o produtor rural! Deixe-o falar sobre o quão a água é importante para a existência de qualquer propriedade rural, ouse ouvir aquele que já cruzou os limites das urbes.
As crises hídricas estão batendo à porta cada vez mais amiúde, mas qual a solução? Cortar a irrigação! É claro! Este setor atrasado, dispendioso no uso da água, poluidor, degradante. Assim o pensamento leigo do cidadão urbano aponta. Vamos acabar com esta visão, essa sim atrasada, de que crises se resolvem de véspera. Não! Crises se resolvem com planejamento, com antecipação, com o uso dos instrumentos constantes na Política Nacional de Recursos Hídricos desde 1997.
O produtor de alimentos irrigados está inserido neste sistema que visa o uso múltiplo, racional dos recursos hídricos, está nos comitês de bacias, está na racionalização dos usos com equipamentos cada vez mais tecnificados e eficientes, no aumento da produção em locais já abertos, diminuindo a pressão para abertura de novas áreas.
Só a conversa franca entre órgão gestor de recursos hídricos, de meio ambiente e a agricultura irrigada, com base nos Planos de Recursos Hídricos, poderá viabilizar o uso sustentável dos recursos hídricos e do meio ambiente.
Que a água não seja um gargalo, mas um vetor para o desenvolvimento ambiental, social e econômico de nosso País em sua vocação dada pela excelente disponibilidade hídrica. Que tenhamos sabedoria para extrair o maior benefício econômico e social dos recursos hídricos de modo sustentável.
É tempo de encontrarmos razões no efetivo planejamento e na efetiva gestão dos recursos naturais, não só de forma cartorária, em forma de licenciamento ambiental ou outorgas de uso da água. Queremos gestão compartilhada e participativa, queremos todos um meio ambiente equilibrado e sadio para as atuais e futuras gerações.
*Bento de Godoy Neto é mestrando em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (Unesp/Profágua)