O uso de tecnologias para irrigação em pastagens e forrageiras vem crescendo cada vez mais no Brasil. Elas possibilitam obter melhor valor nutricional, maiores índices de produção de matéria seca, além de favorecer o manejo adequado e racional do sistema de produção animal, para produção de carne e leite.
Para alcançar maiores índices de produtividade, alguns produtores rurais buscam alternativas para incrementar a produção e, consequentemente, aumentar os lucros. “Estas tecnologias diminuem as perdas de produtividade pela estacionalidade, com a eliminação do efeito do estresse hídrico sofrido pelas culturas, em épocas de veranico, quando falta chuva. E permitem que a manutenção da taxa de lotação, que é a unidade animal por hectare, no outono-inverno, fique mais próxima da taxa alcançada na primavera-verão”, explica o pesquisador Reinaldo Gomide, da Embrapa Milho e Sorgo.
Com a irrigação das pastagens e forrageiras, o manejo da bovinocultura de corte e leite torna-se mais seguro do que em um sistema tradicional de pastejo rotacionado. “Além disso, sem as flutuações na produção, por causa da ocorrência de veranicos nos período das chuvas e de secas, no inverno, o sistema torna-se mais estável do que nas regiões que não têm problemas de temperaturas, principalmente as baixas, e onde não há problemas relacionados com fotoperíodo,” explica.
Gomide considera que, em primeiro lugar, os técnicos e produtores devem usar tecnologias que promovam altas produções da pastagem ou forragem. “A irrigação é uma tecnologia que deve ser aplicada após a verificação de outros fatores relacionados a um sistema de produção adequado de pastagens. No planejamento é preciso verificar se as condições climáticas são favoráveis e realizar um bom manejo do solo. Fazer a correção da fertilidade, caso seja necessário, baseado em análises química e física e, também, na escolha das melhores cultivares de gramíneas e forrageiras”, orienta.
Outras recomendações que devem estar associadas às boas práticas de irrigação são fazer a semeadura em nível, para evitar erosões, manter as adubações de manutenção e de cobertura para as plantas e realizar o monitoramento e combate às pragas e doenças, “Uma das principais pragas, no caso de pastagem, são as formigas”, diz Gomide.
Manejo da irrigação
“O manejo da irrigação deve ser adequado para racionalizar a aplicação de água às culturas de maneira complementar ou integral. Requer certos procedimentos para determinar o turno de rega (frequência de irrigação), bem como para determinar a quantidade de água necessária às culturas, ou seja, a evapotranspiração e, consequentemente, obter a lâmina de água a ser aplicada na irrigação”, explica Gomide. “Para isso, devem ser utilizados dados climáticos de superfície, deve-se conhecer bem o tipo e o estádio de crescimento da pastagem, a profundidade efetiva das raízes e também a disponibilidade de água no solo”.
O pesquisador ressalta que, no Brasil, as dificuldades para utilizar as equações (ou modelos) para determinar a necessidade de água das plantas, ou evapotranspiração, têm levado os irrigantes a fazer o manejo de água de forma inadequada do ponto de vista técnico, econômico e ecológico. E por isso, é fundamental usar essas equações e os dados relacionados aos solos e às culturas para uma boa prática de irrigação de pastagens.
Segundo Gomide, as equações são usadas, primeiro, para determinar a evapotranspiração de referência (ETo). Estas equações podem ser desde mais simples como a equação de Hargreaves e Samani, que usam apenas dados de temperatura do ar, até equações mais complexas, baseadas em modelos biofísicos, que levam em consideração vários parâmetros climáticos, incluindo a radiação solar e o componente aerodinâmico, como a equação modificada de Penman-Monteith.
Em seguida, multiplica-se o valor da ETo por um coeficiente de cultura (Kc), para obter a evapotranspiração da cultura. “Os valores de Kc, no caso de pastagens, variam abruptamente em ciclos curtos de alguns dias de 0,45 a 1,20, reduzindo-se por causa do período de ocupação (PO) dos animais, com o pastejo, e aumentando em seguida, com o período de descanso (PD) do piquete, com a remoção dos animais”, explica Gomide.
Essa dificuldade pode ser contornada com o uso de uma planilha eletrônica Excel ou do programa Irriga Fácil, que são ferramentas que permitem fazer o manejo da água de irrigação de forma adequada e racional. Esses recursos permitem registrar e considerar as condições climáticas do local, tipo e estádio de desenvolvimento da cultura (gramínea ou leguminosa), profundidade efetiva do sistema radicular e disponibilidade de água no solo.
“Todos esses dados e cuidados são essenciais para a eficácia do manejo de irrigação. Mesmo assim, para que a irrigação de pastagens possa atender às expectativas do setor agropecuário, cada caso deve ser analisado individualmente, considerando-se as particularidades e os indicadores econômicos”, conclui o pesquisador.
Fonte: Embrapa Milho e Sorgo | Foto: MilkPoint
Esta publicação, dos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo Paulo – Emílio Pereira de Albuquerque e Camilo de Lelis Teixeira de Andrade, fala sobre a im