Produtores de Goiás iniciam processo para Identificação Geográfica do café produzido no Estado

Luiz Carlos Figueiredo, produtor do município de Cristalina, está otimista com a possibilidade de valorização do café produzido em Goiás

O território goiano, que já é reconhecido nacionalmente por seus altos índices de produtividade agrícola, busca, agora, se tornar referência na produção de café. Um grupo de cafeicultores, liderados pelo presidente da Associação dos Irrigantes de Goiás (Irrigo), Luiz Carlos Figueiredo, está empenhado em obter Indicação Geográfica (IG), do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) para o café produzido em Goiás.

Os produtores contam com o apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) – Superintendência Federal de Agricultura em Goiás (SFA); e do Governo de Goiás, através da Superintendência de Desenvolvimento Agrário e Fundiário (SUDAF). Warner Barbosa, superintendente da SUDAF, afirmou que o Governo de Goiás empenhará “todo o esforço necessário para que o café produzido em Goiás receba o certificado de identificação geográfica, garantindo ao cafeicultor goiano, condições de concorrência com produtores de outros estados”. Quem está a cargo do projeto é a Universidade de Brasília (UnB).

O primeiro passo é a organização dos produtores e a realização de um dossiê sobre os aspectos técnicos, depois a criação de um Regulamento de Uso – conjunto de regras a serem seguidas pelos cafeicultores, e um Conselho Regulador, para verificar o cumprimento das normas estabelecidas. Segundo o professor e engenheiro agrônomo, Reinaldo José de Miranda Filho, a Faculdade UnB de Planaltina – FUP desenvolve ações que podem contribuir no processo de busca pela IG para o café goiano. “Pesquisadores e estudantes da UnB deverão contribuir na caracterização do Regulamento de Uso, bem como, no apoio à organização do dossiê, a partir de informações e de material acadêmico produzido nas ações de pesquisa e extensão e na troca de saberes com os produtores de café, que buscam o IG como alternativa de valorização de seus produtos”, afirma.

Outro aspecto importante é a definição das localidades sob jurisdição do registro, com condições climáticas que resultam em um produto característico, reconhecido pela homogeneidade. “Existem dois tipos de indicação geográfica, a Indicação de Procedência e a Denominação de Origem, esta segunda pode ser atribuída a sua origem geográfica e com base no levantamento de dados e organização das informações referentes ao universo de propriedades proposto, a ser realizado com o apoio de pesquisadores da Universidade de Brasília, teremos possibilidade de dialogar com fundamentação técnica quais regiões e produtores de Goiás poderão ser incluídos na IG”, esclarece Reinaldo.

O presidente da Irrigo falou da expectativa de valorização do café com a IG. “Já produzimos um produto de primeiríssima qualidade no estado de Goiás, o que falta é assegurar certificação ao nosso café, e assim, garantir sua comercialização com valor agregado por sua qualidade”, ressaltou Figueiredo.

Qualidade goiana

Adailton de Oliveira Lisboa estuda e trabalha com cafés especiais de 2002. Em 2007, ele fez o curso Q-Grader, que o outorgou como um avaliador Q (de qualidade), especializado em degustação e classificação de cafés. Essa é uma certificação mundial ligada ao Instituto de Qualidade do Café (Coffee Quality Institute CQI). Segundo ele, que conhece amplamente o mercado de café do País, Goiás está pronto para produzir um dos melhores cafés do Brasil.O consultor explica que, praticamente, todas as fazendas produtoras de café em Goiás produzem cafés especiais, com pontuação acima de 80 pontos, próprios para exportação. “O detalhe da produção do Estado está no pós-colheita, falta orientação para os produtores. O produtor goiano precisa entender que ele tem um potencial diferenciado e que o nosso produto pode atingir os melhores mercados internacionais de café, com preço diferenciado”.

Para ele, com a obtenção do registro de IG, os cafeicultores goianos só têm a ganhar. “Ter um registo para a produção de café de Goiás irá valorizar toda a cadeia do produto, inclusive na hora de conseguir espaço no mercado externo. O café para exportação exige uma série de requisitos: aspecto físico, sabor, aroma, qualidade da bebida, e um registro de IG irá valorizar o produto para esse mercado consumidor”, pontua.

Mercado

Para o pesquisador e coordenador do Sistema Agropensa/ SIM Embrapa, Édson Bolfe, a ampliação da participação em mercados cada vez mais competitivos elevou o interesse pelas IGs. “Essas iniciativas têm possibilitado agregar valor a ativos intangíveis de uma determinada região, garantindo uma identidade que diferencia esses produtos no mercado consumidor”. Para ele, elas também promovem a preservação da biodiversidade e as ações turísticas regionais, projetando-as para além de sua área geográfica e elevando a oferta de empregos e a renda local. “Investir em tecnologias de novos produtos com indicação geográfica é desenvolver territórios e valorizar a cultura do meio rural brasileiro”, garante.

O que muda?

O registro de IG permite delimitar uma área geográfica, restringindo o uso de seu nome aos produtores e prestadores de serviços da região, em geral, organizados em entidades representativas.

A espécie “indicação de procedência” se refere ao nome de um país, cidade ou região conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço. Já espécie de IG chamada “denominação de origem” reconhece o nome de um país, cidade ou região cujo produto ou serviço tem certas características específicas graças a seu meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

Foram os franceses que iniciaram o processo de certificação de Indicação Geográfica, em 1905. Em 1925 já existia a certificação para os queijos Roquefort, em 1935 foi criado o instituto para estudar os processos de denominação de origem. Atualmente na França existem mais de 500 certificados, 470 são para vinhos, sendo mais de 140 mil produtores que se beneficiam dessas certificações de indicação geográfica. O negócio é próspero para os franceses, envolvendo a cifra de 19 bilhões de euros.

No Brasil, os precursores foram os vitivinicultores gaúchos no Vale dos Vinhedos, em 2002. Desde então, as IGs promovem inúmeros produtos brasileiros e sua herança histórico-cultural. Essa herança envolve aspectos relevantes, como, por exemplo, área de produção definida, tipicidade, autenticidade com que são desenvolvidos e a disciplina quanto ao método de produção, garantindo um padrão de qualidade reconhecido como único dos produtores de determinada região.

Assessoria de Comunicação

Thalita Braga

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Foto: Arquivo Irrigo

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