Texto Thalita Braga – Foto Sindicato Rural de Cristalina
Cristalina é reconhecida nacionalmente por seu potencial produtivo, que a tornou o maior PIB Agropecuário do País pela primeira vez ano de 2010, com uma movimentação econômica de R$ 624,132 milhões. Isso só foi possível graças a outro título que o município ostenta – maior área irrigada da América Latina por pivô central. Investimentos em tecnologia ampliaram as técnicas de irrigação, que asseguram hoje uma capacidade de produção durante os doze meses do ano. Conscientes dessa importância para a produção de alimentos no país, produtores de Goiás se reuniram e criaram a Associação dos Irrigantes do Estado de Goiás – Irrigo.
Segundo o atual presidente, Luiz Carlos Figueiredo, o principal objetivo da associação é a organização comunitária das diferentes bacias hidrográficas do Estado de Goiás. “É preciso criar condições para gestão compartilhada das bacias e o primeiro desafio é dar condições de funcionamento e garantir representatividade para o comitê de gestão coletiva da Bacia do Rio São Marcos, que concentra o maior número de irrigantes do Estado”, afirma Figueiredo.
Com a participação de produtores rurais de todo o Estado, a Irrigo não tem medido esforços para reunir informações sobre a irrigação nas diferentes bacias do Estado, para que assim, seja traçada uma proposta coerente de organização direcionada a cada bacia hidrográfica existente no Estado de Goiás. Segundo a lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, a água é um bem de domínio público, cuja gestão deve proporcionar o uso múltiplo e racional, logo, é indispensável que essa responsabilidade compartilhada seja discutida e direcionada em coletividade.
Afonso Peche Filho, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e especialista em sistemas de produção e manejo de solo, também alerta sobre a necessidade de estruturação das bacias em torno de outras demandas intimamente relacionadas com a agricultura irrigada, como é o caso da energia elétrica, proteção ambiental, estradas, logística, recursos humanos entre outras. Segundo o pesquisador, para gestão compartilhada de bacias é preciso a participação de todos os produtores, sem diferenciação do porte produtivo. “Precisamos de um “Pacto de Lealdade” entre os ocupantes da Bacia, no qual pequenos e grandes produtores, juntos com o governo, vão desenvolver uma adequação local da política de gestão dos recursos hídricos. É preciso mostrar aos órgãos reguladores que nós estamos extremamente organizados e queremos negociar soluções para irrigação em Goiás”, afirmou Peche.
O pesquisador destaca também que é preciso que os produtores tenham uma postura de quererem se organizar, fortalecendo assim a Irrigo. “Ainda não temos uma característica de coletividade e ela precisa ser alcançada. É preciso creditar à Irrigo condições de nortear o que precisa ser feito, como deve ser feito, para que tenhamos a chancela do futuro que queremos – a outorga coletiva do uso da água”, salientou Afonso. Ele pondera ainda que, sem uma reestruturação hídrica na ocupação e no uso do solo das propriedades agrícolas não será possível atingir este objetivo, porque esse atual modelo degradador de solo e água afetará diretamente a produção nos próximos anos”, alerta.
“Nós da Irrigo, entendemos que as bacias são estruturas hídricas vivas e, que cabe a nós, irrigantes, mantê-las em condições saudáveis e dar vitalidade aos ecossistemas locais produzindo alimentos”, afirma Luiz Figueiredo. Segundo ele, a Irrigo atuará junto aos agricultores irrigantes, através da sua representatividade técnica, ajudando-os a construir o Projeto Individual de Propriedade (PIP), que permitirá organizar as ações e planejar a reestruturação de ocupação e uso das terras de forma a revitalizar e melhorar as condições hidroambientais locais.
Há cinco anos foram iniciados estudos para aprimorar a assistência técnica na agricultura irrigada, em Cristalina. O professor Afonso Peche acredita que a multiplicação desse estudo nas demais áreas irrigadas do Estado é o caminho para a implantação da gestão compartilhada das bacias hidrográficas em Goiás.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica, existe hoje no município o cadastro de 142 produtores que irrigam por pivô central e, em contra partida, existe o quadruplo desse número querendo irrigar. “A Agência Nacional das Águas já deixou claro que para que haja liberação de novas outorgas para irrigação é preciso que se crie um modelo de gestão coletiva entre os irrigantes, não existe outro caminho”, afirma. Alécio salienta ainda a importância da irrigação para a produção de alimentos. “Em Cristalina, por exemplo, os 54.000 hectares irrigados produzem mais que os outros 259.200 hectares não irrigados. Descobrimos o caminho para a produtividade e agora precisamos nos organizar para garantirmos o uso do nosso principal insumo: a água!”, conclui.