O agricultor Pedro Donzelli acompanha de perto o desenvolvimento econômico no sul do Estado graças a força do agronegócio
É da fazenda Jerivá que o produtor João Benko, 72 anos, tira os produtos para abastecer sua rede de restaurantes em Goiás. Localizada em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal, a propriedade fornece ovos e frango caipira, leite e suínos, que antes de chegar à mesa dos clientes são processados na agroindústria, também na zona rural. “A fazenda existe há 40 anos para abastecer os restaurantes”, diz ele, referindo-se às unidades de Goiânia, na BR-060 e em Brasília. “Conseguimos estabelecer uma produção diária e semanal. Hoje, temos uma horta orgânica e as pessoas querem saber da procedência dos alimentos”, explica.
Sem o uso de defensivos agrícolas, a horta é adubada com a reutilização de resíduos provenientes do leite e compostagem da própria fazenda, demonstrando uma preocupação crescente no campo: a redução de impactos ambientais. Afinal, o que acontece dentro da porteira afeta quem está fora. Que o diga quem depende diretamente do agronegócio para a geração de renda e trabalho. Na rede Jerivá, por exemplo, são 350 funcionários atuando nos restaurantes.
Já nas terras da Fazenda Água Limpa, no Distrito de Ouroana, em Rio Verde, são cultivados soja, milho e sorgo, de forma rotativa, há seis anos. De lá, o produtor rural Pedro Donzelli, 29, vende os grãos para indústrias de alimentos. Já o sorgo é repassado para armazéns e usado na dieta animal. Próximo a duas cidades que respiram agronegócio – Santa Helena e Rio Verde, na região Sudoeste do Estado – ele testemunha os reflexos de uma boa produção dentro e fora da porteira.
Em 2017, com a super safra de grãos, ele sentiu a cidade mais pujante. “Foi um ano muito bom”, define, citando que a produção de soja chegou a 71 sacas por hectare, um pouco acima da média habitual. “A cidade reflete a produção do campo. Se a produção não é boa, o comércio dá uma ‘baixada’, afeta a renda do trabalhador da cidade”, diz ele, que sonha com a plataforma multimodal, da Ferrovia Norte Sul, em Santa Helena, para melhorar o escoamento da produção.
Essa intrínseca ligação das atividades produtivas no campo e seu papel ao garantir segurança alimentar é lembrada pela professora do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio da Universidade Federal de Goiás (UFG), Sônia Milagres. Da porteira para dentro, são produzidas commodities, mercadoria para a indústria alimentícia e, no caso da produção familiar, subsistência das famílias, mas com excedentes indo para feiras: comida saudável para consumidores na cidade. “É no reconhecimento dessa relação sistêmica e visão plural da relação campo-cidade que fica claro o papel de cada agente”, analisa.
Para ela, é fundamental que a relação entre campo e cidade seja cada vez mais harmônica. “O homem do campo trabalha para o suprimento de sua família, ou como mão de obra, capital humano nas empresas do negócio agro, em escala maior, e na agricultura familiar necessita, sobretudo, de produzir excedentes que precisam ser devidamente valorados pelos cidadãos que dependem desse alimento saudável e precisam valorar esse alimento segundo suas necessidades, mas sobretudo, qualificar a produção visando sua salubridade, contribuindo para qualidade de vida, no campo e na cidade”, reflete.
Shopping rural
Em Goiânia, a Avenida Castelo Branco, em Campinas, concentra o que a gerente comercial Anangela Castro chama de “shopping rural a céu aberto”. São inúmeras lojas que comercializam insumos, maquinário, remédios, além da chamada moda country para o homem no campo. Ela comemora a travessia pelos momentos de crise no Brasil, sem registrar retração de receita. “Sofremos menos o impacto da crise do que outros segmentos da economia. Colegas de outros segmentos tiveram perda de 40%, 50%. Fomos na mesma ‘onda’ do nosso cliente”, compara a gerente, que trabalha com roupas, selarias e equipamentos.
Segundo Anangela, a maioria dos compradores da loja – 62% – é do interior ou de cidades de fronteiras, em uma movimentação que faz a economia girar. “Atendemos pessoas que vem à capital uma vez por semana, uma vez por mês ou até uma vez a cada dois meses, quando esse agropecuarista compra insumos, para ir ao médico. Estamos na terceira geração: vendemos para o avô, para os pais e para os netos”, brinca.
Texto: Diene Batista – Assessoria de Comunicação Faeg
Fotos: Larissa Melo